Parece inimaginável, mas é possível conhecer e conversar com um homem nascido em 8 de maio de 1906. Fazendo as contas... ele tem 112 anos! E o melhor, é lúcido!
Raimundo Félix dos Santos é aposentado e atualmente mora em Santa Luzia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. De banho tomado, barba feita e uma disposição invejável, ele conversou com a reportagem no quintal em meio a galos, galinhas, pintinhos, coelhos e o fiel escudeiro Xerife, de 4 anos, um cachorro vira-latas muito ciumento.
"Isso tudo aí foi eu que fiz, o muro, plantei as canas [canas-de-açúcar]. Tudo eu", disse Seu Raimundo, se referindo ao terreno de 1.000m² onde mora.
Nascido em Rio Pardo, na Região Norte de Minas Gerais, ele relembrou que desde muito novo começou a trabalhar com o pai na roça. "Eu acordava às 5h".
E por falar do então patriarca da família Santos, Seu Raimundo disse que começou a fumar cigarro de palha e fumo de rolo aos 13 anos, hábito que se estendeu por mais de 60 anos.
"O próprio pai ensinou o Seu Raimundo a fumar porque tinha muito mosquito na roça, para espantar os mosquitos", explicou a técnica de enfermagem Vanilda Raimunda Soares dos Santos, de 46 anos, que é nora do centenário.
Seu Raimundo também não faz cena quando o assunto é bebida alcoólica. Ele disse que, quando jovem. Bebia pinga para trabalhar na roça. "Só pinga doida". Atualmente, de vez em quando, vai uma cervejinha, garante.
Há cerca de 40 anos, ele se mudou do Norte de Minas para a Grande BH. Em Sabará arrendou uma fazenda e continuou trabalhando na lavoura. O que era produzido dividia ao meio com o dono do imóvel. "Eu cortava cana. Eu sofri muito".
Raimundo Félix trabalhou de sol a sol para criar dez filhos – cinco homens e cinco mulheres. Atualmente, a mais velha está com mais de 70 anos e o mais novo, com 45.
Tanto trabalho não deu trégua para que ele estudasse. O centenário não sabe ler e nem escrever, mas quando o assunto é contar dinheiro ele não tem dúvidas, apesar de ter passado por altos e baixos na economia brasileira e trocas de moedas, como cruzeiro, cruzado, cruzado novo e real.
Ele garante também que naquela época quase não havia "pessoas com leitura" que pudesse dar aulas.
Seu Raimundo se casou mais tarde, com 39 anos, com uma adolescente de 13. Ele ficou viúvo há 22 anos, o que não foi sinônimo de solidão. Depois da morte da mulher, teve duas companheiras.
A primeira, quando estava com 96 anos. "Eu mandei ela embora. Ela era doida, sem-vergonha", fala bravo. O último relacionamento terminou há três anos quando ele tinha 109 anos. O namoro começou aos 100 anos.
Quando questionado se ele pretendia ter outra namorada ele foi enfático. "Não! Mulher é tudo atentada!".
Saúde
Vanilda conta que o sogro tem boa saúde e que toma apenas um comprimido por dia, depois do almoço, por indicação médica, para evitar infarto e acidente vascular cerebral (AVC).
Seu Raimundo vai ao cardiologista uma vez por ano para um check-up, mas Vanilda garante que o colesterol, a glicose e a pressão arterial estão normais.
"A pressão dele é 10 por 6, 11 por 6. Você baba se vir os exames dele. Os valores estão todos normais", fala. A nora diz ainda que ele não reclama de dor ou mal-estar e que sempre comeu carnes gordurosas como maçã de peito e costela de boi.
E Seu Raimundo é muito esperto. Anda, come e toma banho sozinho. Somente para sair para rua é que vai um parente acompanhando. "A gente tem esse cuidado porque se ele cair nessa idade é complicado".
E todo mundo fica imaginando como Seu Raimundo chegou a esta idade com tanto vigor e saúde. "Deus me adora. Eu amo Deus. Quem tem Deus, tem tudo", diz, fervoroso, como justificativa de chegar aos 112 anos.
E quando o assunto é fé, ele não dorme no ponto. Reza o terço várias vezes ao dia, assiste e ouve orações pela televisão e também vai à missa.
"Ela reza o terço umas 50 vezes por dia. Antes de você chegar ele já rezou", diz o filho Geraldo Félix dos Santos, de 57 anos.
Aliando a fé ao corpo físico, Seu Raimundo se alimenta bem. Segundo Vanilda, pela manhã ele come pão, bebe leite com café e come de três a quatro ovos, cozidos ou mexidos.
No meio da manhã ele come uma fruta. No almoço, arroz, feijão, legumes, verduras e carne. Depois tira uma soneca. À tarde come uma fruta que pode ser uma banana, uma pera ou uma laranja. À noite tem o jantar, mas Vanilda garante que ele não come exageradamente.
Ainda segundo a nora, Seu Raimundo não é encrenqueiro, apesar de ser franco, e está sempre de alto astral e bom humor.
De malas prontas
Quando o assunto é viagens, Seu Raimundo tem boas lembranças. Ele já foi para Caldas Novas (GO), Lapa do Senhor Jesus (BA), Aparecida (SP), e no Rio de Janeiro (RJ), onde visitou o Cristo Redentor e andou no bondinho do Pão de Açúcar.
De Caldas Novas, ele relembrou das águas quentinhas. Já da Bahia e de Aparecida, de muita reza.
Na última viagem, ele foi a Peçanha, na Região Leste do estado, onde passou o Réveillon com a família.
"Ele foi direitinho. A gente faz paradas para ele ir ao banheiro, mas ele não dá trabalho", diz a nora.
Com relação ao futuro, Seu Raimundo resume. "Já andei muito. Estou satisfeito. Só Deus sabe".
Deixe sua opnião sobre o assunto.